Por Lucas Bastos em 25/06/2020

Nem todo investidor pensa da mesma forma quando se trata de seguir uma estratégia baseada em dividendos. Enquanto alguns são categóricos em afirmar que bons dividendos são essenciais, outros dizem que preferem empresas de crescimento. Existem também os que dizem não fazer a menor diferença.

Alguns investidores renomados, como Luiz Barsi, preferem as boas pagadoras de dividendos. É conhecido do público investidor que ele construiu uma verdadeira fortuna com sua própria estratégia focada em ações de dividendos. Por outro lado, investidores como Warren Buffet preferem as empresas de crescimento e são igualmente bem sucedidos.

Neste artigo, explicarei como funciona a distribuição de lucros das empresas e citarei algumas estratégias de investimento focadas em dividendos. Ao final da leitura, você será capaz de entender os princípios fundamentais da distribuição de proventos, bem como poderá montar sua própria estratégia e carteira de dividendos.

Em primeiro lugar, avalie o lucro

O principal objetivo de uma empresa é gerar lucro para seus acionistas. É por meio dos lucros que ela pode aumentar o valor econômico do seu patrimônio, investir em novos projetos, financiar o seu crescimento e remunerar seus acionistas através da distribuição de dividendos.

Seja qual for o produto ou serviço de uma empresa, ela não conseguirá crescer e nem remunerar seus acionistas, se não obtiver lucros consistentes. Sendo assim, essa deve ser a preocupação primordial do investidor. Somente depois, ele deve pensar sobre como o dinheiro virá para o seu bolso.

Observe o gráfico de lucro e margem líquidos abaixo. Nele, a empresa apresentou lucros crescentes ao longo do tempo. Certamente valeu a pena investir nessa empresa durante o período, independentemente do pagamento de dividendos.

Lucro e Prejuízo

Por outro lado, a empresa seguinte apresentou lucros inconsistentes e prejuízos no mesmo período. Nesse caso, dificilmente seus acionistas obtiveram um bom retorno.

Lucro Inconsistente

A política de dividendos das empresas

O que define o percentual dos lucros a ser distribuído é a política de dividendos da empresa. Uma boa política de dividendos deve priorizar boas decisões de investimento dos lucros. Sendo assim, se a empresa consegue investir seus lucros a uma boa Taxa de Retorno do Investimento (TIR), é preferível que ela o faça. Se não consegue, é melhor entregá-los a seus acionistas para que realizem outros investimentos com esse capital.

Geralmente, empresas em fase de crescimento tendem a reter a maior parte dos seus lucros para investimento na sua própria expansão. Por outro lado, à medida que uma empresa cresce e se estabelece no mercado, seu ritmo de crescimento tende a diminuir e, portanto, pode ser mais interessante remunerar seus acionistas a reter esses recursos.

Como já foi dito, é fundamental entender que empresas lucrativas e bem administradas geram valor para seus acionistas, independentemente da sua política de dividendos. Esse valor é retornado de três formas:

  • Crescimento: A empresa cresce e obtém lucros cada vez maiores. Isso aumenta o seu valor econômico e, consequentemente, valoriza suas ações;
  • Dividendos: A empresa adquire uma grande fatia do mercado, o que reduz sua taxa de crescimento, mas passa a distribuir uma parcela cada vez maior dos seus lucros para os acionistas na forma de dividendos;
  • Crescimento e Dividendos: A empresa cresce ao longo do tempo e, no processo, distribui dividendos cada vez maiores.

No entanto, se uma empresa não é lucrativa, não crescerá e nem pagará dividendos.

Se uma empresa não apresenta crescimento e nem distribui dividendos, não há como seus acionistas minoritários receberem retorno do capital investido nessa empresa.

Como avaliar o pagamento de dividendos

A forma mais comum de descobrir as ações que mais pagam dividendos é utilizar os indicadores Dividend Yield(DY) e Dividendo Por Ação (DPA). O DPA é o valor pago por ação no período de um ano. Já o DY é o rendimento anual dos dividendos da ação. É calculado pela divisão do DPA pelo preço atual da ação, ou seja, DY = DPA / Preço.

O DY é expresso na forma percentual. Por exemplo, se o DY de uma ação A é de 5%, significa que ela pagou, no último ano, o equivalente a 5% do seu preço atual. Supondo que A custa 100 reais, ela pagou 5 reais de dividendos por ação. Da mesma forma, se uma ação B pagou, no mesmo período, 1 real em dividendos e seu preço é 10 reais, o DY dessa ação é de 10%. É seguro então dizer que B pagou, proporcionalmente, duas vezes mais dividendos do que A.

Note que o DY não depende apenas do valor distribuído; o preço da ação é igualmente importante. Ou seja, para obter um melhor DY é necessário que a empresa passe a distribuir mais ou que o preço da ação caia. Na melhor hipótese, podem acontecer as duas coisas simultaneamente e, nesse caso, o investidor deve aproveitar a chance para engordar sua carteira.

Cuidados ao utilizar o DY

Para encontrar as melhores ações com foco em dividendos, não basta olhar o DY atual; é importante avaliar a variação histórica desse indicador e entender se a tendência é de crescimento, manutenção ou redução. Além disso, existem diversos outros aspectos aos quais o investidor deve se atentar antes de tomar sua decisão.

Por exemplo, às vezes, empresas com menor DY, mas que apresentam crescimento, proporcionam mais retorno ao acionista do que aquelas que não estão crescendo ou não conseguem manter um DY elevado por muito tempo.

Outra situação comum, são lucros não recorrentes ou distribuição extraordinária de dividendos, que podem inflar o DY.

Veja o histórico de DPA e DY abaixo de uma ação real da bolsa. A partir de 2017, a empresa começou a pagar cada vez mais dividendos até que, a partir de 2019, os pagamentos caíram drasticamente. Em pouco tempo, uma das melhores pagadoras de dividendo da bolsa passou a ser uma pagadora abaixo da média. O investidor que comprou essa ação no final de 2018, pode ter acreditado que aquelas distribuições crescentes se manteriam no futuro e, com isso, pode ter se decepcionado bastante.

Dividendos inconsistentes

Esse tipo de situação nem sempre é fácil de antecipar, sem uma análise mais cuidadosa dos dados da empresa. Por isso, criamos dois indicadores de dividendos capazes de estimar o retorno mais provável de uma determinada ação. São eles: DY ivalor e DPA ivalor. A diferença entre esses indicadores e o DY e o DPA normais é que, ao invés de utilizar uma fórmula para calculá-los, são analisados os dados financeiros históricos da empresa, sua política de distribuição de proventos e, com base nisso, sua capacidade sustentável de pagamento de dividendos é determinada.

Compare agora o DPA ivalor com o DPA (12 meses) na figura abaixo. Note que já no início de 2018, o DPA ivalor apontava que a empresa estava pagando mais do que deveria. E não apenas isso: começou a mostrar um declínio na capacidade de pagamento de dividendos da empresa. O investidor que teve acesso a esses dados conseguiu perceber o problema 1 ano e meio antes da primeira redução brusca nos pagamentos.

DPA ivalor vs DPA 12 meses

A estratégia do Décio Bazin

A estratégia de investimento em ações com base em dividendos do jornalista, contador e autor do livro "Faça Fortuna com Ações, Antes que Seja Tarde", Décio Bazin era bastante simples. Para comprar uma ação, era necessário que ela passasse pela seguinte verificação:

  1. Apresentar DY de 6% ou mais;
  2. Não apresentar endividamento excessivo ou dados suspeitos nos balanços;
  3. Não existirem notícias negativas que afetassem seus resultados;

Caso uma ação em carteira falhasse no teste, era vendida imediatamente.

O ponto central da estratégia do Bazin é o DY. As outras condições são verificações adicionais de segurança que ele julgava importantes.

Por ser uma estratégia muito simples, caso queira, você pode fazer as adaptações que julgar necessárias à estratégia do Bazin. Pode ainda definir critérios de qualidade pessoais, modificar o valor do DY ou definir um valor para compra e outro para venda. Por exemplo, comprar acima de 6% e vender abaixo de 3%.

O ranking e o índice de dividendos do ivalor

O Ranking de Dividendos do ivalor é uma seleção de ações de boa qualidade ranqueadas pelo seu potencial de pagamento de dividendos, ou seja, pelo DY ivalor. É uma ferramenta de análise automatizada que facilita a escolha de boas empresas para sua estratégia ou carteira de dividendos.

Para mostrar como carteiras montadas a partir do nosso Ranking de Dividendos podem ser lucrativas, criamos o Índice ivalor Dividendos (IVDIV), composto pelas 15 ações mais bem colocadas no ranking com participação de aproximadamente 6,67%, cada.

Veja mais detalhes sobre o IVDIV e o seu desempenho histórico na página de índices.

Conselhos Finais

Construir um patrimônio significativo em renda variável é um processo que exige paciência e persistência. Paciência porque leva tempo e persistência porque exige aportes regulares, principalmente durante as crises. Tomar as decisões certas e investir eficientemente pode fazer a diferença entre o sucesso e a desistência.

Veja o que você pode fazer para alcançar o sucesso:

  • Invista por mais tempo: Por causa do efeito exponencial dos juros compostos, aumentar o tempo de acúmulo de patrimônio produz um resultado exponencialmente maior.
  • Aumente o valor dos aportes: Por razões óbvias, ao aportar um valor maior, o investidor adquire uma quantidade maior de ações acelerando a geração de riqueza.
  • Reinvista os dividendos: Ao reinvestir os dividendos, é possível adquirir ações adicionais com dinheiro que veio da própria empresa. Isso equivale a aumentar sua participação acionária sem custos e, com isso, reduzir o preço médio da sua carteira. Além disso, ao aumentar sua participação, o investidor passa a ter direito a uma quantidade maior de dividendos na próxima distribuição. O efeito exponencial da repetição desse ciclo acelera consideravelmente o acúmulo de capital.
  • Aporte mais quando as ações estiverem baratas e menos quando estiverem caras: Ao pagar menos pelas ações, é possível comprar uma quantidade maior com o mesmo dinheiro, resultando num menor preço médio, no recebimento de um montante maior de dividendos e num crescimento mais acelerado do seu patrimônio. Quando as ações estiverem muito caras, você pode aportar em renda fixa e aguardar um melhor momento para retomar os aportes em ações. Além disso, os investidores mais empreendedores podem aproveitar esses momentos para balancear suas carteiras vendendo um pouco das ações que mais subiram e realocando o dinheiro nas que mais caíram ou na reserva de oportunidades.

 

Lucas Bastos
É fundador do ivalor, doutor em computação aplicada e investe em ações desde 2006.
Comentários